
Só estou bem aonde não estou
Não consigo dominar
Este estado de ansiedade
A pressa de chegar
P’ra não chegar tarde
Não sei do que é que eu fujo
Será desta solidão
Mas porque é que eu recuso
Quem quer dar-me a mão
Assim começa a canção do grande António Variações – Estou Além. E é este estado de ansiedade que muitos/as pacientes me descrevem na consulta. Por vezes, numa fase inicial do processo terapêutico, denoto um receio em partilhar os detalhes do que sentem. Por não compreenderem o que se passa, poderão pensar que são esquisitos, que algo de muito errado se passa com eles, que nunca serão compreendidos. Muitas das vezes não sabem que é de ansiedade que se trata. Julgam ter um problema grave e é a medo que pouco a pouco vão revelando o seu sofrimento.
Por vezes, a pessoa deteta que algo não está bem quando se dá conta que já não consegue saborear os momentos vividos. Por exemplo, ao participar numa atividade do seu interesse passa o tempo todo preocupada com algo que tem para fazer, o seu pensamento busca mais e mais informação sobre esse assunto, o coração começa a palpitar, não consegue perceber o que as pessoas à sua volta lhe estão a dizer, sente-se mal porque não está a corresponder ao esperado, sente-se culpada porque não devia ter aceite o convite, devia ter ficado em casa, pensa que quer sair dali rápido porque não se sente bem…assim por diante, numa espiral interminável.
Tendencialmente, a pessoa vai procurar evitar os estímulos que lhe causam dor ou que sejam vistos como ameaçadores. Pouco a pouco, esse comportamento de fuga a diferentes situações leva a um isolamento que alimenta a crença de que não é capaz de desempenhar algo na sua vida. As emoções negativas que resultam deste ciclo poderão levar quem sofre de ansiedade a um estado depressivo. É importante reconhecer os sintomas em si e nos outros para intervir e encaminhar para um apoio psicológico.
As pessoas que sofrem de ansiedade vivem-na de diversas formas, com diferentes graus de angústia. Em estados mais graves estas pessoas poderão desenvolver perturbação de pânico que se caracteriza por um pico dos sintomas e onde surge o receio de não aguentar, de que vai desmaiar, ou mesmo de que vai morrer, de tão insuportável que é a sensação. Estas crises poderão tornar-se recorrentes se não forem tratadas e ter um forte impacto na qualidade de vida da pessoa.
A ansiedade faz parte das nossas vidas, da condição de existir. Mas quando ela se torna incapacitante é importante procurar ajuda. É possível com o tratamento adequado diminuir os sintomas e aprender a conviver com a ansiedade de forma mais saudável.