
A depressão tem muitas caras
Já dizia o velho ditado: quem vê caras não vê corações. Um rosto sorridente, uma pessoa extremamente ativa, alguém que conta muitas piadas…diria à primeira tentativa que se trata de uma pessoa que esteja a sofrer de depressão? O primeiro instinto será dizer que não, no entanto, a forma como cada um/a de nós vivencia esta doença é muito diversa.
As pessoas vivem a depressão de diferentes formas dependendo das suas personalidades, condições de vida, rede social, empregos, responsabilidades, entre outros. Algumas vão procurar camuflar os seus sentimentos, outras vão querer fazer o máximo de atividades possível de modo a não ter tempo para dar atenção ao que sentem, outras vão ceder ao que a mente lhes diz isolando-se e diminuindo cada vez mais as suas interações sociais. O sofrimento existe nas diferentes situações e cada pessoa faz o melhor que pode e sabe para lidar com ele. O que há de transversal, independentemente da forma como expressa a doença, é a dificuldade em encontrar-se consigo mesmo/a. Os pensamentos que tem sobre si, a avaliação que faz das situações, a interpretação que faz sobre as relações que mantém com os/as outros/as, a confusão, o pessimismo, a desesperança. Este tipo de pensamentos anda de braço dado com emoções negativas que se alimentam reciprocamente: a culpa, a ansiedade, o medo, a perda do prazer, o desinteresse, a solidão, a tristeza.
Olhar para dentro si quando está neste estado é puxar a ponta de um novelo sem fim. Um pensamento puxa outro pensamento que puxa outro… e outro… Torna-se viciante, o que é cada vez mais perturbador e sofrido. Esforça-se e procura por uma saída mas o que encontra é mais tristeza, mais dor. Acontecimentos que o/a fizeram sofrer no passado regressam com toda a força e volta sentir-se indefeso/a como antes. Talvez mais ainda, porque está por sua conta, no caso de ser adulto/a, afinal “já devia saber tomar conta de si próprio/a”.
Sentir-se deprimido/a pode estar associado a algum acontecimento em concreto e existem razões muito fortes que poderão levar alguém a sentir-se assim como o desemprego, a morte de uma pessoa querida, a notícia de uma doença ou o fim de uma relação amorosa. Hoje, a pandemia é um acontecimento que potencia a ocorrência desta doença. Vivemos tempos muito exigentes do ponto de vista emocional e cognitivo. Há uma ameaça real sobre o nosso futuro. É muito difícil construir a esperança nestas condições. Mas não temos alternativa.
A vida é uma luta diária e com a ajuda da psicoterapia poderá voltar a aprender a construir a esperança, a erguer-se e olhar o futuro de frente. A depressão é uma doença séria. Não fique sozinho/a, procure a ajuda de um/a psicólogo/a para o tratamento da depressão, faça o caminho do autoconhecimento e volte a ter as rédeas da sua vida.