Setembro amarelo

Mês de consciencialização para a prevenção do suicídio

No passado dia 10 de Setembro assinalou-se o dia mundial de prevenção do suicídio. Em Portugal, os últimos dados apontam para uma média de 3 suicídios por dia[i]. A nível mundial estima-se que ocorra uma morte por suicídio a cada 40 segundos.

Penso existir em nós um sentimento de enorme falha enquanto humanidade quando somos confrontades com estes dados. Logo surge a questão: Porque é que isto acontece? O que é que leva uma pessoa a cometer o suicídio? Sabe-se que a maior parte das pessoas que morreu por suicídio sofria de problemas de saúde psicológica, sendo a principal doença identificada a depressão. Uma multiplicidade de fatores poderão levar a pessoa a uma situação limite, de perda de esperança, de não ver mais nenhuma saída possível ao estado em que se encontra. O suicídio acontece quando a dor que a pessoa sente excede as estratégias que tem para lidar com o sofrimento.

Para isso, poderão contribuir fatores de risco emocionais, físicos, sociais e económicos. Sabe-se, por exemplo, que jovens da comunidade LGBTQIA+ têm uma probabilidade três vezes maior de praticar o suicídio nalgum momento da sua vida e que esta probabilidade aumenta quando a sua família não aceita a sua orientação sexual ou identidade de género. É também sabido que em momentos de crise económica há uma maior probabilidade de as pessoas desenvolverem sintomatologia depressiva e ansiógena. Essa é a nossa realidade hoje. Os últimos anos foram de um desafio gigantesco do ponto de vista psicológico para todes nós. Foi, em especial, para pessoas em situações de maior vulnerabilidade. A pandemia, a guerra, as alterações climáticas, a inflação, toda a crise que estamos a viver pode criar as condições para que pessoas que lutam todos os dias para fazer face às dificuldades se vejam numa situação de desespero.

Lia no outro dia no jornal The Guardian um artigo[ii] escrito por Sanah Ahsan, psicóloga clínica, que abordava a crise na saúde mental de que tanto se fala sob um outro prisma. A autora lança-nos a questão: “Não fará sentido que tantos entre nós estejam a sofrer? Claro que faz: estamos a viver num mundo traumatizado e incerto. O clima está a desmoronar, estamos a tentar acompanhar o aumento do custo de vida, ainda sobrecarregados de tristeza, contágio e isolamento, enquanto revelações sobre a polícia assassinando mulheres e revistando crianças destroem a nossa fé naqueles que nos deveriam proteger.”

De facto, muito do sofrimento psicológico que é vivido hoje precisa ser também compreendido à luz das condições extremas em que nos encontramos. Não nos podemos limitar a uma visão individual dos problemas de saúde mental que existem hoje. Esses problemas ocorrem em pessoas que estão inseridas num sistema social que lhes tem trazido nos últimos anos desafios com uma gravidade crescente. Penso que esta leitura sobre o mundo em que vivemos é muito importante também para a tarefa que temos em mãos na prevenção do suicídio. E parte dessa tarefa, no nosso trabalho, passará também por ajudar a pessoa a ver-se como alguém que está a sobreviver num mundo opressivo.

[i] https://www.dn.pt/sociedade/em-portugal-suicidam-se-tres-pessoas-por-dia-vamos-falar-sobre-isso-14106005.html

[ii] https://www.theguardian.com/commentisfree/2022/sep/06/psychologist-devastating-lies-mental-health-problems-politics